quarta-feira, 8 de março de 2017

"Caça às bruxas"???

Participei, no dia 3 de março de 2017, de um debate organizado pelo PT São Paulo, como parte da preparação do sexto congresso.

Participaram, também, Monica Valente, Misa Boito e Carlos Zaratini.

A organização do debate propôs que se mantivesse, na primeira e na segunda rodada de falas, a mesma ordem.

Na prática, Monica Valente foi a última a falar tanto na primeira, quanto na segunda rodada.

Graças a este procedimento, de resto inusual, me senti a vontade para questionar uma afirmação feita por Monica Valente, na sua primeira fala, acerca da "caça às bruxas".

Afinal, seria possível responder imediatamente à crítica.

A resposta da companheira Monica foi, na minha opinião, muito esclarecedora. 

No endereço a seguir está, em rápidos 3 minutos, o que cada um de nós falou: https://youtu.be/tu8XgYR5inw

Como ela cita algo que eu teria escrito, recomendo a leitura do artigo assinado por mim e publicado na página do PT: http://www.pt.org.br/valter-pomar-o-pt-e-a-luta-contra-a-corrupcao/

Neste artigo está escrito, entre outras coisas, o que segue: 

99.Se lembrarmos que o PED – processo de eleição das direções partidárias – tornava-se cada vez mais parecido com os processos eleitorais tradicionais, envolvendo somas significativas de recursos utilizados para pagar as contribuições partidárias, para transportar (muitas vezes ilegalmente) filiados para votar, para financiar as campanhas internas e em alguns casos inclusive para comprar votos, temos a explicação pela qual o sistema de financiamento empresarial tornou-se não apenas indispensável para enfrentar a direita nas eleições, mas também indispensável para enfrentar os adversários partidários, tanto nas eleições internas, quanto nas disputas eleitorais propriamente ditas.
100.Em decorrência disto, a secretaria de finanças tornou-se o posto mais importante em algumas direções. Um exemplo simples pode deixar isto claro. Desde 1995 até 2016, a tesouraria nacional teve titulares oriundos de uma única tendência do Partido – enquanto todos os demais cargos da direção foram ocupados, de tempos em tempos, por pessoas de diferentes tendências. Isto revela uma concepção de partido, onde o controle das finanças é decisivo.
101.Importante dizer que esta atitude — de monopolizar as finanças e fazer disto um instrumento de controle político — não é exclusiva de uma única tendência partidária. Afetou diferentes setores do Partido, das mais variadas orientações ideológicas. Evidentemente, a medida que este método proporcionou a formação de uma maioria absoluta, seus efeitos deletérios se concentraram em quem detinha esta maioria.
102.Quando lembramos que as receitas partidárias são provenientes, em sua esmagadora maioria, do financiamento empresarial privado, fica claro porque o tema não foi enfrentado com antecipação e decisão, antes que ele se convertesse em arma nas mãos da direita.
Pergunto: existe algo no texto acima que não corresponda aos fatos? 

Pergunto também: os fatos relatados acima podem ser caracterizados como "caça às bruxas"? 

Quem quiser ver a íntegra do debate realizado em Guarulhos, basta acessar o endereço a seguir: https://youtu.be/00-mUn3UjdE

E quem quiser ler mais a respeito de uma "caça às bruxas" que merece o nome, recomendo: 

1) https://indicalivros.com/pdf/a-caca-as-bruxas-lillian-hellman

2) http://tede.biblioteca.ufpb.br/bitstream/tede/6166/1/arquivototal.pdf

3) https://www.estantevirtual.com.br/b/fernando-peixoto/hollywood-episodios-da-histeria-anticomunista/1205599452&offset=2

Por fim: o debate realizado em Guarulhos confirma, a meu ver, que o grupo atualmente majoritário no Diretório Nacional do PT escolheu atuar, no processo de congresso partidário, como uma força conservadora. 

Este grupo resiste a reconhecer os erros cometidos pelo Partido, dentro e fora de governos e parlamentos. Resiste a extrair lições da derrota que sofremos. Evita fazer o debate estratégico e programático de fundo. Adota um comportamento -- não de quem pretende dirigir política e ideologicamente o Partido -- mas sim de quem pretende manter o Partido “sob controle”.

E como se não fosse suficiente, alguns deste grupo ainda se vitimizam. Ao receber críticas, reclamam estar sendo vítimas de uma "caça às bruxas".

Não estão. Aliás, não está em curso nem mesmo um "ajuste de contas".

A única coisa imprescindível é uma mudança de estratégia e a garantia de que certas práticas não vão se repetir.

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