segunda-feira, 15 de junho de 2015

Respostas ao jornalista Ernesto Marques, de Salvador (BA)

1.O 5o. Congresso poderia ser considerado o marco do esgotamento do PT? Pelo sentimento de frustração/desencanto comum às tendências da minoria, teria sido taticamente melhor não fazer o congresso agora?

Não concordo. O PT é um fenômeno histórico, cujos destinos são decididos principalmente no âmbito mais geral da luta de classes, não principalmente nos espaços internos. Eu abordaria o tema de outra forma, a saber: uma vez que estamos diante de um processo de esgotamento da estratégia adotada pelo PT até agora e uma vez que o quinto Congresso não conseguiu formular uma estratégia alternativa, pelo contrário decidiu insistir numa maneira de atuar que não está mais funcionando, cabe perguntar se o PT conseguirá corrigir seus rumos a tempo de impedir que ele sofra uma grande derrota? Na minha opinião, está questão está em aberto e dependerá de como vão comportar-se tanto os 45% que perderam a votação do ajuste fiscal, quanto aquelas parcelas dos 55% que sabem que do jeito que estamos indo, não vamos conseguir ir muito longe.
Quanto a segunda questão, não concordo: hoje sabemos que 55% que não querem mudar, ou pelo menos não querem mudar tanto quanto necessário; mas sabemos, também, que estes 55% não correspondem a maioria dos sindicalistas petistas, a maioria das bases que compareceram nas etapas livres do congresso, a maioria da intelectualidade petista. Que os 55% tenham perdido a oportunidade, isto não quer dizer os 45% não devessem ter tentado. 

2.As manobras de contenção que antecederam a abertura, prevenindo manifestações mais críticas ao governo ou hostis ao Levy e aliados, seriam um sinal de que a questão da direção não seria superada pelo Congresso.

O grupo numericamente majoritário na atual direção, eleita em 2013, já demonstrou diversas vezes que é adepto da "direção defensiva". Sinalizaram um pouco para a esquerda no texto-base apresentado ao Congresso, mas do ponto de vista tático preferiram não dizer que a política de ajuste fiscal adotada pelo governo é um desastre, que a aliança com o PMDB acabou, que é preciso construir imediatamente uma frente de esquerda, que o financiamento empresarial destrói o caráter de classe do PT, que o atual sistema eleitoral interno traz para o Partido as distorções que vemos nas eleições tradicionais. Adicionalmente, este grupo majoritário esquece que tem um mundo lá fora. E que este mundo não pode ser manobrado, como se manobra a programação de um congresso partidário.

3.Ao cristalizar as coisas como estão - e como já estavam há muitos anos -, mesmo considerando as evidências de um possível esgotamento, a maioria perde legitimidade?

A legitimidade de um grupo dirigente não vem dele ter maioria. Vem da forma como ele obteve maioria e, principalmente, da capacidade hegemônica, ou seja, da capacidade deste grupo conduzir o conjunto do Partido, em benefício do conjunto do Partido. O que este congresso demonstrou, entre outras coisas, é que o grupo atualmente majoritário no Diretório Nacional não tem esta capacidade. Está mais preocupado em manter sua unidade interna do que em construir um caminho alternativo para o Partido enfrentar seus problemas de fundo. Além disto, este grupo tornou-se majoritário através de métodos que um amplo setor do Partido considera inadequados para um partido de massas militante e democrático. Espero que parte do grupo majoritário tenha se dado conta que, agindo deste jeito, eles vão levar o PT ao desastre.

4.O que você chama de "efeitos colaterais" na condução das atividades do congresso por dirigentes mais jovens do velho grupo majoritário?

Não são exatamente dirigentes mais jovens. Não se trata de idade cronológica. São uma geração dirigente mais jovem no sentido de que chegaram muito recentemente à posição de destaque que ocupam agora. Esta geração tem duas camadas. Um grupo de dirigentes antigos, que ascendeu subitamente depois da degola de 2005 e que agora, com a prisão de Vaccari, "chegou ao poder" interno: Monica Valente, Florisvaldo, Márcio Macedo, Alberto Cantalice etc E há uma segunda camada, composta por jovens propriamente ditos, que passaram a militar depois que chegamos ao governo federal. 
Quanto aos efeitos colaterais, resumo assim: falta visão estratégica. Frente a isto, personagens importantes do grupo majoritário já manifestaram, publica ou privadamente, suas preocupações. 
 
4.Como avalia que essa postura mais conservadora, traduzida nas principais decisões do congresso, vai impactar as bases do Partido?

Depende, Há bases e bases. Uma parte da base apóia estas decisões, pois compreende a política em termos cada vez mais convencionais, em que o Partido existe para chegar ao governo, em que o Partido é uma extensão do governo, em que o Partido é dirigido pelo governo. Outra parte é contrária a isto, preserva a ideia de que o Partido tem como objetivo ajudar a classe trabalhadora a conquistar o poder e a construir o socialismo, que o Partido não existe apenas para disputar eleições, que o Partido não é uma extensão nem pode ser dirigido pelo governo. Para estes setores da base, o Congresso produziu muito desalento. Desalento que não devemos deixar prosperar, pois o PT não é e não pode ser resumido aos que venceram o Congresso.

5.Apesar da previsibilidade dos resultados nas votações, o imprevisível se expressou nos manifestos da bancada federal, com 38 assinaturas de parlamentares de diversas tendências; e no manifesto dos petistas da CUT. Na abertura, manifestações livres de grupos de delegados mantiveram a tradição da militância, tanto na referência à chacina do Cabula, à ovação a Vaccari na fala de Sokol, ainda na apresentação de teses; e a indiferença na referência de Rui Falcão ao ex-tesoureiro preso, no encerramento, sob vaias e diante de um plenário em retirada... seriam sinais de que o petismo está vivo como sempre, mesmo com o PT dando sinais de esgotamento?


O petismo segue vivo, assim como o PT segue vivo. O que está morrendo é a estratégia e a maneira de conduzir o Partido que ainda predominaram neste Congresso. Como disse antes, parte dos 55% sabem disto. Agora precisam transformar este conhecimento em disposição para construir outra direção para o PT.

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