sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Siqueira tem saudade de Meirelles!!!!

Em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, o novo presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro, o senhor Carlos Siqueira, tenta explicar o apoio de seu partido à candidatura de Aécio Neves.

Segundo Carlos Siqueira, "para que se possa compreender as razões que levaram o Partido Socialista Brasileiro a optar pelo apoio programático à candidatura de Aécio Neves é preciso partir de um elemento de realidade. Esse elemento já estava posto quando o saudoso governador Eduardo Campos decidiu protagonizar a luta pela mudança da qualidade da práxis política: as realizações do PT de Lula não são as mesmas de Dilma Rousseff".

Esperávamos que na sequência Siqueira apontasse as supostas ou reais diferenças programáticas entre os governos Lula e Dilma, e justificasse a partir daí um apoio programático a quem fez oposição tanto ao "PT de Lula" quanto a Dilma.

Mas não é isso que vem na sequência.

O que vem na sequência é uma catilinária sobre o "envelhecimento de ideais, inerente à permanência no poder. Esse processo de fadiga prática e teórica leva, não raro, à aristocratização de lideranças que, na origem, eram comprometidas com as causas populares. Ou seja, o PT que está no poder há 12 anos envelheceu e se afastou de sua base social e de seus ideais políticos".

Deixo registrado que este mesmo raciocínio não foi aplicado no estado de São Paulo, onde o PSB apoiou a reeleição do governador Geraldo Alckmin, senhor das águas e da falta de água.

Talvez os tucanos envelheçam melhor ou não envelheçam (Oscar Wilde?).

Supondo que seja verdade que há uma fadiga de material, ainda assim qual a justificativa programática para apoiar no segundo turno quem se opõe não apenas a Dilma em 2010 e 2014, mas também se opôs ao PT e a Lula em 1994, 1998, 2002 e 2006?

Siqueira argumenta o seguinte: "impunha-se, portanto, como tarefa política, criar para os brasileiros uma oportunidade concreta de alternância. Esse é um princípio básico do regime democrático, ao qual nosso partido se engajou sem qualquer ambivalência já no momento de sua fundação, em 1947".

O "portanto" aí é pura prestidigitação retórica: voce lê o portanto, acha que uma coisa leva a outra, quanto na verdade o autor está mudando de assunto, está deixando de lado qualquer debate explícito sobre o programa e passando a discutir outra coisa. A saber, a tal "alternância".

Ao tratar do tema, Siqueira confunde o direito à alternância com a natureza da alternância. 

O direito à alternância é garantido pelas liberdades democráticas, que permitem ao povo eleger e não eleger seus governantes. 

Mas qual a natureza da alternância? 

Uma pessoa ser substituída por outra? Um partido ser substituído por outro? A esquerda ser substituída pela direita? Uma desenvolvimentista por um neoliberal? Um democrata ser substituído por um fascista?

A defesa em abstrato da alternância, desconsiderando o conteúdo do projeto de cada partido/governo/governante, pode levar a opções absurdas, inaceitáveis como algumas das citadas no parágrafo acima. 

Por isto, para evitar este tipo de desfecho absurdo, é imprescindível distinguir o direito à alternância, do conteúdo concreto da alternância.

Siqueira sabe disto, penso eu, mas ele está obnubilado pelo discurso de 9 em cada 10 direitistas deste país: derrotar o PT em defesa da.... democracia, da ordem, dos bons costumes, da honestidade, do bom gosto e principalmente do direito de enriquecer sem olhar o que está acontecendo com os pobres e com os trabalhadores.

Tanto é assim que a contradição programática, para ele, vira um mero "complemento". Pois o essencial para ele, o que vem em primeiro lugar, é derrotar o PT (a tal "alternância").

Reparem na frase: "Nota-se, em complemento, que a aproximação com o PSDB não é incondicional e que está amparada por diretrizes programáticas baseadas em sugestões do PSB. Daí a nossa firme decisão de apoiar de forma entusiástica a candidatura de Aécio Neves à Presidência da República".

Divertido, não? Não é incondicional, mas é entusiástica.

E por qual motivo não é incondicional? Porque, conforme Siqueira deixa implícito, o PSDB é o partido do "favorecimento do grande capital", da "renúncia à soberania nacional" e da "aliança com o capital financeiro internacional".

E apesar disto tudo, o apoio é entusiástico!!!

A forçada de barra é tão grande, que ele é obrigado a usar uma desculpa. 

E a desculpa é a seguinte: "o petismo que chegou ao poder se valeu de um quadro ligado à banca internacional e eleito deputado federal pelo PSDB, Henrique Meirelles, para comandar o Banco Central. Sua política no BC assegurou ganhos extraordinários às instituições financeiras nacionais e internacionais".

Vamos supor que o PT chegou ao "poder".

E vamos reconhecer que especialmente entre 2003 e 2005, Henrique Meirelles teve poderes que nunca deveria ter tido, numa presidência do BC para a qual ele nunca deveria ter sido nomeado.

Mas mesmo supondo isto tudo, ainda cabe perguntar: um petista ter aceito um tucano na presidência do BC é justificativa para um socialista defender um tucano na presidência da República???

Só pode responder positivamente esta pergunta, quem gostou tanto da política do tucano na presidência do BC, que agora quer estender a tucanagem para o conjunto do governo federal.

Talvez seja este, para Siqueira, o grande defeito de Dilma: não ter Meirelles na presidência do BC!!!

Que tipo de "possibilidade libertária" isto nos traria, só Milton Friedman pode explicar.




Segue abaixo o texto criticado:

O PSB contra o maniqueísmo - Carlos Siqueira – Folha de S.Paulo 
Para que se possa compreender as razões que levaram o Partido Socialista Brasileiro a optar pelo apoio programático à candidatura de Aécio Neves é preciso partir de um elemento de realidade. Esse elemento já estava posto quando o saudoso governador Eduardo Campos decidiu protagonizar a luta pela mudança da qualidade da práxis política: as realizações do PT de Lula não são as mesmas de Dilma Rousseff.
O diagnóstico não tinha por fundamento os nomes ou as habilidades de cada um. Referia-se de forma direta ao fato apontado por vários teóricos da política, segundo o qual há um envelhecimento de ideais, inerente à permanência no poder. Esse processo de fadiga prática e teórica leva, não raro, à aristocratização de lideranças que, na origem, eram comprometidas com as causas populares. Ou seja, o PT que está no poder há 12 anos envelheceu e se afastou de sua base social e de seus ideais políticos.
Impunha-se, portanto, como tarefa política, criar para os brasileiros uma oportunidade concreta de alternância. Esse é um princípio básico do regime democrático, ao qual nosso partido se engajou sem qualquer ambivalência já no momento de sua fundação, em 1947.
Essa qualificação pode parecer estranha, mas é relevante no contexto de época e também na atualidade, quando se tenta sacrificar um princípio do regime democrático em nome de uma tentativa de apropriação das causas populares por uma única agremiação partidária, neste caso o PT. Ora, os que de fato são democratas não podem partilhar da ideia de uma democracia condicional, ou seja, que só é boa quando as forças pelas quais militam vencem.
A análise qualificada do cenário político exige deixar de lado o maniqueísmo simplório, que, ao longo de toda a história, justificou os totalitarismos à direita e à esquerda. Nesse sentido, o PSB se mantém fiel às suas tradições e recusa as pechas que servem a um discurso que se aproxima dos malfadados ideais do partido único.
Nota-se, em complemento, que a aproximação com o PSDB não é incondicional e que está amparada por diretrizes programáticas baseadas em sugestões do PSB. Daí a nossa firme decisão de apoiar de forma entusiástica a candidatura de Aécio Neves à Presidência da República.
Quanto às questões que maculariam nossa coligação com o PSDB --favorecimento do grande capital, renúncia à soberania nacional e aliança com o capital financeiro internacional--, basta recordar que o petismo que chegou ao poder se valeu de um quadro ligado à banca internacional e eleito deputado federal pelo PSDB, Henrique Meirelles, para comandar o Banco Central. Sua política no BC assegurou ganhos extraordinários às instituições financeiras nacionais e internacionais.
O fato de o PSB não se ver na condição de proprietário da verdade lhe permite entender que há uma possibilidade libertária. Isso quer dizer, na atual conjuntura, desfazer o equívoco de que o futuro já tenha sido totalmente inventado por um único sujeito político.
O futuro que vislumbramos guarda diferentes ordens de possibilidades e nos orientamos em direção a ele tendo por farol nossos valores históricos e democráticos, e não a adesão acrítica a ideais que não nos pertencem.
Eduardo Campos compreendeu que um ciclo hegemônico se esgotara e com ele o dinamismo de nosso desenvolvimento econômico e social. O PSB, que sempre se posicionou em prol das causas populares, teve a coragem de extrair de sua leitura de conjuntura as devidas consequências políticas.
Precisamos recompor os fundamentos que permitirão melhorar a qualidade de vida de nossa gente. Para isso, é preciso ter a ousadia da mudança!

Um comentário:

  1. Sim, é gostoso ver o pt levar o ferro do discurso moralista (discurso que ele mesmo fazia) do malcheiroso do Aécio e, com apoio da mídia que ele tolera e apoia, conseguir "dar liga". É quase miraculoso alguém chegar ao segundo turno sem nenhuma proposta concreta,a não ser a tosca redução da maioridade para punir as delinquências populares, sem mostrar no programa nenhuma obra! Note, ele não mostra obras! O divertido e´que Dilma, como uma fralda cagada, terá que sair e Lula vai ter que entrar em campo, finalmente, saindo do terreno do mito e indo pousar no mar de lama da história. O PT roubou o programa de privatizações do pSDB e deu esmolas e ainda vai ganhar. O Aécio roubou até o papo de mudança de Obama e Lula! É uma piada!

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