quarta-feira, 18 de junho de 2014

Um detalhe que me escapou

Ao comentar o texto de Mauro Iasi (http://valterpomar.blogspot.com.br/2014/06/nem-todo-escravo-tem-mentalidade-da.html), me escapou falar de um aspecto importante: sua descrição acerca do que ocorreu com a esquerda petista.

Reproduzo integralmente:  Para manter a “imagem” do governo petista (Sader está preocupado com a imagem) é preciso uma operação perversa: atacar quem denuncia os limites desta experiência, não importando o quanto desqualificado e hipócrita seja o ataque, estigmatizando, despolitizando o debate. Primeiro foi necessário destruir a esquerda dentro do PT e sabemos os métodos que foram usados nesta guerra suja. Na verdade o que vemos agora contra a esquerda fora do PT é uma projeção do ataque vil e brutal que companheiros da esquerda petista sofreram e (aqueles que ainda resistem lá no PT) ainda sofrem (esquerdistas, isolados das massas, sem expressão eleitoral, irresponsáveis, etc.). E depois que conseguirem isolar, estigmatizar e satanizar a crítica de esquerda a essa experiência centrista e rebaixada de governo? Quando forem atacados pela direita que não guarda nada a não ser desprezo para com os escravos da casa grande?


O que falta nesta descrição? Na minha opinião, três aspectos: o impacto da crise geral do socialismo e da ofensiva neoliberal; a pressão direta da burguesia; e as opções da chamada esquerda. 

Aquilo que Mauro caracteriza como "destruição" da esquerda do PT não teria ocorrido sem os dois primeiros fatores, mais exatamente sem o impacto que causaram na classe trabalhadora brasileira.  E a "reconstrução" da esquerda, por sua vez, está vinculada a mudanças no ambiente geral da luta de classes, em âmbito internacional e nacional. 

Já a extensão da "destruição" (e/ou o êxito da "reconstrução") dependem em grande medida das opções ideológicas, programáticas, estratégicas, táticas e organizativas da própria esquerda. 

Neste sentido, acho que os "métodos que foram usados nesta guerra" (métodos que Mauro chama de "sujos") explicam muito menos do que em geral gostamos de admitir. Até porque falar dos "métodos sujos" dos outros é o tipo de discurso de quem perdeu ou de quem desistiu (tipo a "piada" dos republicanos derrotados afirmando que "nossas canções eram melhores" do que as dos franquistas). 

Na minha opinião, quem continua na luta não deve "lamentar" a falta de modos (ou de gosto) do inimigo ou adversário. Devemos, é claro, denunciar toda "sujeira". Mas o que vai decidir a luta não é um lamento, mas sim a adequada combinação entre circunstâncias objetivas, inspiração, transpiração.. e um pouco de sorte.  

Deste ponto de vista, observando a trajetória da chamada esquerda petista desde 1993 até hoje, minha impressão é que podíamos ter feito muito mais e melhor para defender nossas posições. 

Isto vale tanto para os que saíram do Partido, quanto para os que ficaram no Partido mas saíram da esquerda, quanto para aqueles que continuam defendendo as posições da esquerda petista (caso em que me incluo).

Existe um enorme espaço e uma enorme simpatia, dentro do PT e dentro de amplos setores da classe trabalhadora que confiam no PT, para a defesa das posições de esquerda. 

Claro que neste momento há muito mais "espaço" (em governos, eleitoral, nas direções etc.) para quem sai da esquerda e se acomoda ao status quo interno. 

Claro, também, que a primeira vista parece ser mais "simples", mais "coerente", defender certas posições fora do PT do que dentro dele. 

Mas a "comodidade relativa" dos que saem da esquerda petista, seja para fora da esquerda, seja para fora do PT, não implica na solução dos problemas estratégicos postos para a classe trabalhadora. 

Na minha opinião, ou conseguimos "girar à esquerda" o próprio Partido e o governo encabeçado pelo PT, ou a classe trabalhadora e o conjunto da esquerda brasileira --inclusive os setores que criticam e condenam o PT-- sofreremos uma derrota de longa duração.

É por isto que, respeitando os que desistem do PT, eu não posso deixar de questionar a lógica política envolvida, em especial as ilusões dos que acreditam ser possível, ao mesmo tempo, derrotar o PT e a direita. 

Ao menos no atual período histórico, não acredito em solução positiva para a classe trabalhadora brasileira que não envolva positivamente o PT. Contra o PT ou sem o PT, o desenlace será certamente negativo.

Claro que nada garante que com o PT tenhamos um desenlace positivo. Mas até onde consigo perceber, segue sendo melhor correr o risco do que não tentar.







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