sábado, 29 de dezembro de 2012

Um partido também para os anos ímpares


Já está circulando a edição 116 do jornal Página 13, referente ao mês de janeiro de 2013. A seguir, uma versão corrigida do editorial.

Noutro momento, já dissemos que não queremos ser aquele Partido com um grande passado pela frente; neste, queremos dizer que o PT não pode se limitar a ser um partido de anos pares.

Há vida, há luta de classes, também nos anos ímpares. E 2013 será um destes anos, como se pode ler em detalhes nos textos de Wladimir Pomar e Iriny Lopes, bem como na resolução da executiva nacional da CUT e na convocatória do Quinto Congresso do PT.
Muitos serão os desafios que enfrentaremos em 2013 e, a depender de como o PT se comporte, chegaremos mais fortes à batalha que os antigos chamariam de “centro da tática”: a eleição presidencial de 2014.
O centro da tática deve vincular-se à estratégia: não nos basta ganhar as eleições 2014, sendo necessário ganhar de forma que nos permita, mais que administrar, reformar estruturalmente um país profundamente desigual e injusto. E não conseguiremos isso se o Partido não sair da letargia-de-anos-pares em que se encontra atualmente.

Não é a primeira, nem será a última vez que falamos disto: o PT precisa retomar as reflexões que o levaram a formular um programa democrático e popular, articulado com a luta pelo socialismo. E lembrar por qual motivo chama-se “partido dos trabalhadores”, não “trabalhista”, nem “da classe média”.

A isto nos dedicaremos, nos debates da eleição das novas direções partidárias. Onde precisaremos enfrentar, simultânea e articuladamente, a direita externa e os adversários internos.

Sobre a primeira, os textos desta edição 116 do Página 13 (disponível em www.pagina13.org.br) falam bastante: o grande capital, a grande mídia e os partidos da oposição neoliberal, tríade que possui aliados dentro do governo e até mesmo dentro do PT.

Quanto aos adversários internos, vamos tratar diferenciadamente os social-liberais, os desenvolvimentistas, os social-democratas e os simplesmente oportunistas.

Contra os três primeiros grupos, travaremos um debate programático. Contra o oportunismo, uma batalha pela sobrevivência do Partido enquanto tal.
A partir de 2003, o PT viveu em escala nacional algo que já era visível em estados e municípios em que ganhamos eleições: a filiação de arrivistas, de políticos tradicionais, de filiados clientelares. Ao mesmo tempo, a nossa presença no governo nacional fez crescer o número de filiados envolvidos em casos de mandonismo burocrático, tráfico de influência e corrupção. 
Finalmente, há que se falar da relação com o grande empresariado, com o objetivo de financiar as campanhas eleitorais e até mesmo a atividade cotidiana do Partido; a relação com os partidos de direita, na busca de apoios para eleger e governar; e a relação com a grande mídia, na busca de um afago, de uma nota favorável, de um espaço-migalha.
Todas as variáveis citadas no parágrafo anterior compõem o caldo de cultura no qual se alimenta e cresce o oportunismo que ameaça a sobrevivência do Partido. 

Não há como retomar a estratégia e o programa democrático-popular e socialista, sem ao mesmo tempo enfrentar e eliminar as causas do oportunismo. Trata-se, como sabemos, de uma operação complexa, que envolve reformas internas e externas ao Partido.

Mas não há que se esperar a reforma política, para impor restrições ao financiamento empresarial das atividades partidárias. Não há que se esperar a democratização da mídia, para criar meios de comunicação de massa controlados pelo Partido. Não há que se esperar o controle social da justiça, para detectar e punir internamente quem use o PT para praticar atos de corrupção. Não há que se esperar que restaure-se a moralidade: no PT ninguém deve locupletar-se.

Já em 2005 defendíamos comissão de ética para vários envolvidos na crise de então. À época, fomos derrotados. Apenas Delúbio Soares foi julgado e punido pelo Partido, sendo posteriormente reintegrado: votamos pela sua expulsão e contra a reintegração. Não nos movia, naquela época nem hoje, nenhum moralismo, apenas a certeza de que não se pode expor impunemente o Partido aos ataques da direita. Até porque a impunidade estimula mais e mais oportunismo e malfeitos. E não podemos deixar prosperar a idéia de que somos “farinha do mesmo saco”.

A mesma certeza nos leva, hoje, a não confundir a denúncia do julgamento ilegal promovido pelo STF, das penas absurdas imputadas a alguns arrolados na Ação Penal 470, e mesmo a solidariedade pessoal com militantes probos, com a mais dura crítica contra todos os que deram intimidade a este criminoso chamado Marcos Valério.

Aliás, a ausência de autocrítica por parte de alguns dos envolvidos, combinada com a tentativa de fazer da defesa dos condenados o centro da tática partidária, nos fizeram manter distância de certos atos convocados durante o ano de 2012.

Uma parcela importante do povo brasileiro confia no PT. Confia sem fanatismos, sem ilusões, sem messianismos. Esta confiança se baseia na experiência de que o PT defende os interesses da classe trabalhadora. Reconhecer os erros e as insuficiências do Partido não enfraquecerá estes laços. Os fortalecerá. E, feitas as contas, o que mais importa é o PT, não este ou aquele dirigente, por mais importante que ele seja.

Em 2013 e sempre, cada um de nós deve sustentar o bordão: o PT é meu partido, mexeu com ele, mexeu comigo.

Os editores

















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