sábado, 14 de janeiro de 2012

A hora da confusão

Este texto foi divulgado, provavelmente, no dia 6 de setembro de 2005.

Já sabíamos que os momentos de crise são férteis em boatos, desmentidos, contraditas e desinformação. Mas o momento atual está batendo todas as expectativas.

Vejamos só o caso do presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti. Os tucanos e pefelistas que o elegeram, agora descobriram que ele não é flor que se cheire.

Não que nos surpreenda a “incoerência” da direita: por “coincidência”, afastado Severino, um deputado do PFL assumiria a presidência da Câmara. Mas cá entre nós: acusar o PT de responsável pela eleição de Severino é um pouco demais. Mesmo assim, tem colunista sério que repercute.

A confusão instalada na política nacional, também atinge as análises sobre o PT.

No início do ano, José Genoino era dado como eleito no PED marcado para setembro. Hoje, o segundo turno é dado como garantido. Num caso, como no outro, não se deve esquecer que o voto é dos filiados. E aí estamos diante de um mistério maior do que o de Fátima: ninguém sabe quantos irão votar, nem tampouco em quem.

No meio do ano, todos os candidatos “oposicionistas” eram apresentados como azarões. Hoje, depois que muitas lideranças que apoiavam o “Campo majoritário” declinaram publicamente seu voto na oposição, já se fala no “favoritismo” deste ou daquele nome.

Na verdade, como não há pesquisas nem parâmetros confiáveis, a única coisa “certa” é que, havendo segundo turno, Ricardo Berzoini estará lá. O concorrente pode ser Maria do Rosário, Raul Pont, Plínio de Arruda Sampaio e Valter Pomar. Só as urnas dirão.

A confusão da hora, entretanto, faz-se em torno do apoio dos Tatto à candidatura de Valter Pomar.

A colunista Tereza Cruvinel, de O Globo, diz que “no próprio Campo Majoritário do PT já se admite a possibilidade de derrota de Ricardo Berzoini na disputa pela presidência do partido. O candidato que está crescendo é Valter Pomar, da tendência Articulação de Esquerda, que tem apoios bastante disseminados nos estados. Se confirmado, o apoio do grupo de Marta Suplicy, o PT de Luta e de Massas, pode selar sua vitória. Atacando duramente a direção anterior que montou o valerioduto, Pomar vem moderando o tom de suas críticas à política econômica e ao governo”.

Segundo Verena Glass, em artigo divulgado pelo site Carta Maior, estaria em curso uma “paulatina aproximação de sua chapa com o Campo Majoritário, em vista de uma possível aliança no segundo turno que já teria começado a se desenhar com o apoio dos aliados da ex-prefeita Marta Suplicy, ligada ao Campo, a sua candidatura”.

A leitura do texto de apresentação da minha candidatura à presidência nacional do PT; ou da tese "A esperança é vermelha"; a leitura dos textos escritos por mim desde meados de 2002 (quando da divulgação da "Carta aos brasileiros"); a leitura das entrevistas e discursos feitos nos debates entre chapas e candidaturas a presidente; bem como a leitura das resoluções da tendência Articulação de Esquerda, da qual faço parte desde 1993, mostram que minhas opiniões sobre a política econômica e sobre o governo continuam as mesmas.

Ocorre que amplos setores do "Campo majoritário" passaram a defender mudanças na política econômica, aproximando-se das posições que a esquerda defende. Não confundamos, entretanto, o movimento que estes setores fazem em direção da esquerda, com uma “moderação” nas posições que defendemos há anos.

Ocorre, também, que setores que integram a esquerda petista passaram a defender uma ruptura com o governo e com o Partido, distanciando-se das posições que defendemos. Não confundamos, entretanto, o movimento que eles fazem para longe do PT, com uma alteração nas nossas posições. Ocorre, finalmente, que há mais razões entre o Céu e a Terra, do que nossa posição sobre a política econômica.

É o caso daqueles que, independente do que pensam sobre a política econômica, sabem que - para o bem do PT - o “Campo majoritário” tem que perder o PED.

É o caso daqueles que, independente do que pensamos sobre a política econômica, nos acreditam mais preparados para defender o Partido, dirigir a participação do PT nas eleições de 2006 e conduzir o III Congresso. É o caso, igualmente, daqueles que, independente do que pensamos sobre a política econômica, acham fundamental ter uma direção plural, democrática e que não instrumentalize a presidência nacional, em favor deste ou daquele candidato a governador.

Mas a confusão mais aguda foi “cometida” pelo jornal O Estado de S. Paulo, segundo o qual “o apoio do grupo a Pomar, porém, pode pôr em risco a aliança dos candidatos de esquerda no segundo turno. É o que alerta o deputado Ivan Valente (SP), um dos coordenadores da campanha de Plínio”.

Este risco certamente existiria, caso o apoio do PT de Luta e de Massas (tendência capitaneada pela “família Tatto”) à candidatura presidencial da chapa A esperança é vermelha envolvesse, de nossa parte, algum tipo de concessão programática.

Se fizéssemos alguma concessão programática, por óbvio não teríamos como pedir, nem como dar apoio –no segundo turno— às demais candidaturas. Acontece que essa concessão não existiu. Na verdade, apenas demos seguimento à análise política que fizemos em setembro de 2003, nas resoluções da VI Conferência:

“O governo Lula pode ter um papel fundamental na luta contra o imperialismo norte-americano, na luta contra a hegemonia do capital financeiro, na luta por reformas democráticas e populares, na luta por um Brasil e um mundo socialistas.”

“Isso só ocorrerá, entretanto, se houver uma mudança na linha política que hegemoniza, hoje, o governo, o PT e a maioria da classe trabalhadora brasileira.”

“Esta mudança de linha política pode resultar do crescimento da esquerda socialista, ao ponto dela se tornar majoritária no Partido e na classe trabalhadora; de uma divisão no atual campo majoritário do PT, a semelhança do que aconteceu em 1993; ou, finalmente, se a atual maioria partidária alterar ela mesma sua política.”

“Os três caminhos são possíveis e podem ocorrer simultaneamente. E dependerão, em grande medida, da luta de classes”.

Como se sabe, o violento ataque da direita ao PT tem provocado divisões no “Campo majoritário”. Neste quadro, a não ser que não queiramos vencer o PED, podemos e devemos estimular estas divisões e atrair, para o nosso lado, os dissidentes.

O que não podemos, nem devemos fazer, são concessões programáticas. Pois nesse caso, venceríamos a disputa presidencial, mas não teríamos conseguido mandato partidário para implementar as mudanças imprescindíveis à defesa do PT e do governo.

Como não fizemos aquelas supostas concessões, não há nenhum motivo para colocar em risco a aliança de segundo turno. De nossa parte, reiteramos: caso não estejamos no segundo turno, apoiarei incondicionalmente qualquer dos candidatos (ou candidata) que vá ao segundo turno, contra Ricardo Berzoini.

Suponho que este apoio não será recusado. Logo, por qual motivo a recíproca não seria verdadeira?
 A não ser, é claro, que a confusão vença a esperança.




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