domingo, 25 de dezembro de 2011

O futuro do PT

Texto publicado dia 27 de outubro de 2005.



A ofensiva das forças conservadoras contra nós foi contida pela demonstração de força que a militância petista deu no PED, bem como pela vitória que obtivemos na eleição do presidente da Câmara dos Deputados.
Mas não devemos confundir a interrupção momentânea do bombardeio, com o fim da ataque. O crescimento tucano nas sondagens eleitorais e a vitória do Não no referendo de 23 de outubro mostram, para quem quiser enxergar, em que mares revoltos estamos navegando.
Cabe considerar, também, os problemas e limitações do governo federal, em particular a desenvoltura com que a Fazenda continua atuando, aparentemente alheia aos sinais cada vez maiores de insatisfação, que crescem nas bases militantes, sociais e eleitorais do PT e do governo Lula.
Este é o terreno minado em que atuará o Diretório Nacional eleito no dia 18 de setembro. Conforme se previa, será de fato uma direção de transição, a quem caberá defender o PT, construir as condições para uma vitória nas eleições de 2006 e convocar o III Congresso Partidário.
A defesa do PT se fará em quatro diferentes planos. Primeiro, frente aos ataques da direita, que continua impulsionando uma campanha de desmoralização do Partido. Segundo, frente aos riscos de falência financeira, herança dos métodos de financiamento e gestão hegemônicos na direção anterior. Terceiro, frente a setores influentes do governo, para quem o Partido é um estorvo. Quarto, frente aos ataques da ultra-esquerda.
Defender tantos flancos, simultaneamente, não será uma tarefa fácil. Como não será fácil obter uma vitória nas eleições gerais de 2006, que se darão num cenário bem diferente de 2002.
Pela primeira vez, disputaremos uma reeleição presidencial, tendo que efetuar a defesa de uma experiência de governo que a média dos filiados encara de maneira muito crítica, como o PED demonstrou.
A tática do PT na eleição de 2006 não se resume à reeleição de Lula. Não basta vencer. É preciso vencer em condições que nos permitam realizar um segundo mandato superior ao primeiro.
Isso exige mudanças imediatas na condução do governo, uma campanha de polarização programática, bem como a eleição de um número maior de governadores, deputados e senadores ligados ao campo democrático e popular.
No caso de verificar que a candidatura de Lula segue muito forte, a direita provavelmente concentrará seus esforços em manter o governo federal manietado a partir de dentro e cercado a partir de fora, a partir dos governos estaduais e de uma maioria conservadora no Congresso Nacional, coordenados com o poder judiciário, com os grandes meios de comunicação, com as entidades empresariais e com seus aliados internacionais.
No caso de sentir que há chances de derrotar Lula, a direita provavelmente concentrará seus esforços na disputa presidencial, o que inclui desde o estímulo para que Lula não concorra, bem como o esforço de unidade, desde o primeiro turno, entre o PSDB e o PFL. Neste cenário, é provável que os meios de comunicação concedam um espaço generoso para as candidaturas que disputarão, com Lula, o eleitorado de esquerda.
Em qualquer dos dois cenários, o Partido dos Trabalhadores seguirá sendo o alvo principal dos ataques da direita.
Um capítulo importante da batalha de 2006 é a disputa pelos governos estaduais. Nesta questão, destacam-se os estados de maior peso político e econômico, os estados governados pelo PT e aqueles onde temos desde já candidatos a governador com grandes chances de vitória.
Outro capítulo importante é a eleição proporcional, tanto para o Senado, quanto para a Câmara dos Deputados e Assembléias Legislativas. Se não alterarmos a situação, corremos o risco de uma redução ou pelo menos estagnação de nossa representação parlamentar, sendo o prejuízo maior onde não consigamos fazer campanhas partidárias e politizadas.
Não é preciso repisar a importância de termos governos e mandatos parlamentares, tanto para a disputa política geral do país, quanto para as disputas regionais, sem falar no apoio aos movimentos sociais, inclusive àqueles que professam desprezo à institucionalidade.
A eleição de 2006 será muito difícil para o PT. Por conta disto, é fundamental iniciá-la desde já, naquilo que constitui nossa maior dificuldade: o debate programático.
O PED demonstrou que o PT tem reservas estratégicas para enfrentar os ataques da direita. Ficou clara, também, a redução do apoio à política hegemônica no governo. Mas se o PED acabou com a velha maioria, não criou uma nova maioria. Em outras palavras: não está dado que o PT conseguirá produzir uma alternativa à orientação que prevaleceu desde 1995, nem muito menos qual o teor desta alternativa.
Uma nova estratégia e uma nova maioria não serão produzidas “a frio”, apenas através de alianças entre os diversos grupos que compõem a nova direção nacional do PT, onde ninguém sozinho dispõe de maioria absoluta. Pelo contrário, uma nova estratégia e maioria serão produzidas “a quente”, na condução da ação partidária e na disputa sobre qual deve ser a orientação do Partido nos próximos e decisivos meses que nos separam da, esperamos, reeleição de Lula.
Um dos embates decisivos se dará em torno da elaboração do programa de governo 2007-2010. O grupo “pallociano” tem um “programa” claro: aprofundar o ajuste fiscal. E, quem sabe, fazer do próprio Ministro da Fazenda o candidato à presidente da República na primeira eleição pós-Lula, conseguindo aquilo que Pedro Malan tentou sem êxito. Para isso, o grupo de Palloci certamente tentará exportar, para o programa do Partido, todos os limites que sua orientação conservadora impôs à ação do governo federal.
É evidente que, se quisermos vencer a eleição de 2006, Lula tem de ser nosso candidato. E Lula candidato fará um balanço extremamente positivo de seu mandato, certamente mais positivo do que o próprio Partido faria, noutras condições de temperatura e pressão.
Pelos mesmos motivos, tende a existir uma diferença significativa entre o programa com o qual o PT gostaria de disputar as eleições de 2006, versus o que será o programa com o qual Lula aceitará disputar a reeleição.
Esta diferença precisa ser tratada de maneira mediada, nem condicionando nosso apoio à candidatura de Lula, à concordância deste com o programa elaborado pelo Partido, nem tampouco submetendo o Partido às imposições do Ministério da Fazenda.
Em nossa opinião, cabe ao PT fazer um programa conforme seus objetivos programáticos e estratégicos, negociando este programa com os partidos aliados e com o candidato à presidência da República.
Este, por sua vez, certamente terá a sensibilidade de perceber que nosso governo e nossa candidatura precisarão fazer muitos gestos à esquerda, se quisermos contar com um esforço militante expressivo na campanha de 2006. Esforço militante que será fundamental, num quadro em que a situação financeira do PT será muito precária.
Isto posto, a nova direção nacional do PT deve chamar para si o processo de elaboração do programa de governo, processo que inclui pelo menos três dimensões fundamentais:

a)o balanço da experiência do governo Lula 2003-2006;
b)o diálogo programático e estratégico, com a base partidária, com nossos aliados de esquerda e com os movimentos sociais;
c)a relação entre o programa de governo 2007-2010 e nossa elaboração estratégica, o que supõe lembrar qual o papel  da disputa e do exercício do governo federal, na estratégia de luta pelo socialismo no Brasil.
Isso nos remete à terceira tarefa da nova direção nacional: a convocação do III Congresso do Partido dos Trabalhadores. O melhor momento para sua realização é após as eleições de 2006, isto por dois motivos principais.
O primeiro deles: evitar que o debate sobre temas ideológicos, programáticos e estratégicos seja contaminado pelo pragmatismo eleitoral, que ataca em maior ou menor medida todos os setores do Partido, impedindo inclusive que haja o tempo e a atenção indispensáveis a um Congresso que mereça este nome.
O segundo deles: permitir que o debate congressual seja travado, já sendo conhecido o resultado da eleição presidencial, que por sua vez definirá o cenário tático-estratégico em que atuaremos no próximo período, não apenas no Brasil, mas também na América Latina (onde ocorrerão várias eleições importantes, em 2006).
No III Congresso é que se poderá responder, de verdade, qual o futuro do PT. Pois que tem futuro, isso o PED já respondeu.




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