domingo, 25 de dezembro de 2011

Não vamos desviar o foco

O texto abaixo (marcado em azul) foi divulgado, pela internet, no dia 13 de junho de 2005.

NÃO VAMOS DESVIAR O FOCO
Li com atenção o texto assinado pelo Plínio de Arruda Sampaio, em defesa da CPI dos Correios.
É importante entender os motivos pelos quais ele apoia a CPI.
Será que ele acha que se faz necessária uma CPI para investigar "um pequeno vivaldino (...) pego com a boca na botija se lambuzando no recebimento de uma possível propina de três mil reais"?
É claro que não.
Será que ele acha que o governo Lula não vai investigar a questão e punir os envolvidos?
Pelo visto, ele acha que não.
Segundo Plínio, "temeroso em perder o apoio [do PTB] no Congresso, o governo federal apressou-se em externar solidariedade ao chefe do partido e em buscar turvar as investigações".
Quais investigações o governo Lula, segundo Plínio, teria tentado "turvar"?
Na Polícia Federal? No Ministério Público? Nos demais órgãos responsáveis pela investigação?
Em nenhum desses âmbitos, o governo Lula tentou "turvar" as investigações. Pelo contrário.
Assim, se é verdade que Lula cometeu um enorme erro ao prestar solidariedade ao presidente do PTB; e se é verdade que o governo operou de maneira incorreta contra a CPI; também é verdade que o governo adotou as medidas administrativas e policiais cabíveis para investigar e punir os envolvidos.
Portanto, quando fala em "turvar", Plínio deve estar se referindo às investigações que seriam promovidas, ao menos em tese, pela CPI.
Repetimos: em tese, pois sabemos que as últimas CPIs realizadas por este Congresso viraram instrumento de achaque, de corrupção, não de investigação em favor dos interesses públicos.
Assim, cabe perguntar: por qual motivo Plínio acha que uma CPI, neste Congresso de direita, seria um instrumento mais eficaz de investigação que as ações desenvolvidas pelo governo federal?
Segundo Plínio, "o governo Lula e o Partido dos Trabalhadores nada têm a temer com um exame criterioso nessa área". Estamos de acordo com isso, mas em termos.
Em termos, porque uma CPI, neste Congresso, nesta conjuntura, não fará "exame criterioso" de coisa alguma.
Ou alguém tem dúvida que uma CPI vai se transformar num palanque, onde a oposição atacará o governo Lula e o PT sem nenhum "critério"?
Não foi exatamente isso que aconteceu no Rio Grande do Sul, durante o governo Olívio? E lá, depois de nossa derrota nas eleições para governador, o Ministério Público mandou arquivar as denúncias, que foram fundamentais entretanto na campanha eleitoral, para desmoralizar nosso governo e nosso Partido.
Assim, a crença de Plínio no "critério" de uma CPI é no mínimo unilateral. Tenho mais confiança no critério do nosso governo federal, do que numa CPI, neste momento, neste Congresso.
Resta, assim, o que consideramos ser o motivo fundamental: nas palavras de Plínio, "o que está em jogo, de fato, é outra coisa".
Para ele, "a CPI dos Correios pode ser a chance de exibir o comportamento de falsos aliados, arejar a base parlamentar e ser o ponto de apoio para uma sólida mudança de rumos, tanto na economia, quanto na política de alianças".
Na minha opinião, Plínio comete aqui o mesmo equívoco do campo majoritário do Partido: deposita esperanças no Congresso Nacional, deposita ilusões nas batalhas parlamentares.
Não é preciso uma CPI dos Correios para exibir o "comportamento de falsos aliados".
Ademais, os fatos estão mostrando que, ao invés de "arejar a base parlamentar" e ser "ponto de apoio para uma sólida mudança de rumos", toda a polêmica em torno da CPI está servido para colocar o governo na paralisia e torná-lo ainda mais dependente da maioria de direita.
A dinâmica do governo Lula não será rompida por dentro do Parlamento. A lógica adotada pela maioria do Partido, de tornar o governo prisioneiro da maioria de direita, não será rompida num jogo promovido por esta mesma maioria de direita.
Nós precisamos mudar o campo de batalha, fazer com que o centro da luta política seja a mobilização social e não o parlamento. Enquanto o campo de batalha, enquanto o centro da luta política, estiverem no Parlamento, a esquerda será derrotada.
Finalmente: não vamos cair no jogo do José Dirceu. Ele as vezes pensa e fala como se fosse o presidente do Partido, da mesma forma como o José Genoíno as vezes pensa e fala como se fosse ministro do governo Lula. Mas não devemos tomar suas palavras ao pé da letra.
Dirceu sabe muito bem que não há nenhuma chance de expulsar os parlamentares que assinaram a CPI. Embora tenham cometido, na minha opinião, um erro em assinar o pedido de CPI, esses parlamentares não cometeram nenhum "crime". Afinal, a resolução do Diretório Nacional do PT recomendava, mas não proibia, a assinatura; e nem mandava quem já tivesse assinado, retirar a assinatura.
Portanto, o que Dirceu pretende, ao "levantar o tom da voz", não é intimidar ou punir os que assinaram. O que ele pretende é agrupar as suas próprias "tropas", que andam batendo cabeça.
Assim, não vamos entrar nesse jogo. O debate que interessa fazer não é o da CPI dos Correios, o debate que interessa fazer é sobre os rumos do PT, do governo Lula, em particular da política econômica.
Nesse sentido, a CPI atrapalha muito, pois desvia o foco, do Copom para o Correio.
Valter Pomar


>Reply-To: ptcampinas@grupos.com.br
>To: ptcampinas@grupos.com.br
>Subject: [ptcps] [movimento_unidade_socialista] Nota Plínio sobre CPI dos Correios
>Date: Thu, 2 Jun 2005 01:10:25 -0300
>Porque somos favoráveis à CPI dos Correios
>A Comissão Parlamentar de Inquérito dos Correios pode se tornar um divisor de águas no governo Lula. Por isso somos favoráveis a ela.
>Houve uma intensa disputa, no Congresso Nacional, na semana passada, em torno de sua instalação. Os mais diversos interesses se cruzam nesse embate. De um lado, temos a oposição conservadora - um conluio que abriga desde apoiadores da extinta ditadura militar, até os mais notórios representantes do governo financista e desnacionalizante de FHC. De outro, tentando impedir a Comissão, há setores do governo e do Partido dos Trabalhadores.
>Os primeiros não têm a menor autoridade para exigir a moralidade da coisa pública. Notabilizaram-se por abafar investigações durante oito anos, desde o escândalo do Sivam, até as denúncias de compra de votos para garantir a reeleição de seu líder. A imprensa chegou a divulgar que a vontade de cada parlamentar era negociada por até R$ 200 mil.
>Os segundos perdem-se na tentativa de evitar uma investigação mais profunda não em seu chamado patrimônio ético, mas nas catacumbas da organização de um estado patrimonialista e fisiológico.
>O que está em jogo? Um pequeno vivaldino foi pego com a boca na botija se lambuzando no recebimento de uma possível propina de três mil reais. Tudo acabaria aí, não fosse o elemento ter sido indicado por dirigentes de um dos partidos da base governista, conhecido por suas práticas heterodoxas no trato da coisa pública. Temeroso em perder o apoio daquela agremiação no Congresso, o governo federal apressou-se em externar solidariedade ao chefe do partido e em buscar turvar as investigações. De outra parte, ansiosos por escândalos que lhes rendam frutos eleitorais, PFL e PSDB brandem o espectro do quanto pior melhor na tentativa de desestabilizar o governo.
>É preciso que se diga com todas as letras: a questão deve ser investigada! Temos certeza que o governo Lula e o Partido dos Trabalhadores nada têm a temer com um exame criterioso nessa área.
>O que está em jogo, de fato, é outra coisa. É o fato do governo Lula, eleito com 56 milhões de votos de brasileiros que optaram pela mudança, ter de fechar acordos para ter como base de apoio partidos fisiológicos e conservadores, contra os quais o PT sempre se insurgiu. E a causa de tal comportamento é uma só: por ter optado, desde seu início, em manter a política econômica de seu antecessor, subordinada ao capital financeiro, a exigir crescentes cortes orçamentários para financiar a especulação e o pagamento de juros. Política que concentra renda, pauperiza nosso povo e torna o próprio governo refém de seus adversários. Para levá-la adiante, a administração federal precisa contar com aqueles que sempre apoiaram tais práticas em gestões anteriores. Ou seja, essa política necessita de barganhas e negociações pouco claras no Parlamento.
>Em segundo lugar, deve ficar claro que o verdadeiro escândalo de malversação de recursos públicos não está nos Correios, mas no Banco Central. Somente a escalada de juros altos, iniciada em agosto de 2004, resulta numa sangria de mais de R$ 9 bilhões nos cofres públicos. Aí mora a gastança e a falta de ética!
>Sem mudar essa política, o governo Lula continuará a se enredar numa teia de pequenos e grandes interesses e não corresponderá ao voto depositado nas urnas em 2002. Para mudar essa política, o governo deve fazer um chamamento à nação, aos setores organizados da sociedade, a começar pelos próprios partidos de esquerda, passando pelas entidades democráticas - CUT, MST, UNE, associações religiosas, intelectuais etc. É na mobilização social que encontrará apoio ao seu programa de transformações sociais e a uma governabilidade de novo tipo.
>A CPI dos Correios pode ser a chance de exibir o comportamento de falsos aliados, arejar a base parlamentar e ser o ponto de apoio para uma sólida mudança de rumos, tanto na economia, quanto na política de alianças.
>Ameaçar com punições, ou até mesmo expulsão, os dignos parlamentares petistas que, coerentes com nossa história, querem levar essa investigação adiante constitui-se em atitude das mais condenáveis. Apoiamos e somos solidários aos 15 parlamentares de nosso partido que não cederam às pressões e mantiveram suas assinaturas no requerimento da CPI. Puní-los equivale a punir uma parte significativa da militância do PT.


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